Arquitetura no Estado Novo (1937–1945): a presença do neocolonial em edifícios institucionais em Cuiabá

Projeto de iniciação científica 2021–2022

Objetivos, problema e justificativa

Este plano de pesquisa busca investigar aspectos da manifestação do movimento neocolonial presentes em alguns edifícios construídos na cidade de Cuiabá, Mato Grosso durante o período do governo autoritário de Getúlio Vargas e do interventor federal de Mato Grosso na época, Júlio Strubing Müller, sobretudo no período do Estado Novo (1937-1945). O objetivo geral é reunir informações a respeito das características dos edifícios, especialmente em relação ao estilo neocolonial, e sobre à historiografia da construção desses edifícios, a fim de preencher lacunas identificadas dentro da história da arquitetura do período no Brasil e sistematizar o acervo encontrado. Apoiando-se no objetivo geral, temos os específicos:

  • Realizar levantamento histórico da construção do edifício e reuni-los dentro deste trabalho;

  • realizar levantamento arquitetônico, bibliográfico e iconográfico, a fim de identificar as características construtivas presentes nos edifícios, em relação ao uso destes e principalmente ao movimento neocolonial;

  • elaborar um mapa com a inserção dos objetos no espaço em relação ao restante da cidade de Cuiabá-MT e principalmente ao centro antigo;

  • discutir sobre as características dessas construções e suas relações com a ideologia do progresso e da modernização difundida por Getúlio Vargas.

  • catalogar os elementos que rementem ao neocolonial identificados nos edifícios.

A princípio os objetos da pesquisa são cinco construções que possuem características do estilo neocolonial, localizadas na cidade de Cuiabá-MT, construídas no período do Estado Novo (1937-1945): O Grande Hotel (atualmente vazio), a Residência dos Governadores (atualmente Museu Residência dos Governadores), o Palácio Episcopal (hoje, Cúria Arquidiocesana de Cuiabá), 16º Batalhão de Caçadores (atualmente 44º Batalhão de Infantaria Motorizado) e o Abrigo Bom Jesus (atualmente prédio que funciona o Conselho Tutelar), sendo as quatro primeiras obras tombadas pela esfera estadual e pertencentes às obras oficiais de Mato Grosso, encomendadas pelo interventor Júlio Müller ao presidente Vargas com o intuito de “modernizar” a capital do estado. A última não possui tombamento e não faz parte dessas obras oficiais, porém foi construída no mesmo período e pela mesma construtora das outras, a firma Coimbra Bueno e Cia Ltda.

Esses edifícios são de grande importância e relevância para historiografia brasileira, sobretudo para a de Mato Grosso, pois fazem parte de um período de forte ideologia em relação a necessidade de ocupação, integração e, sobretudo, de progresso das regiões norte e centro-oeste do país. Todo esse discurso foi materializado através de uma política pública do período denominada “Marcha para o Oeste”, portanto, essas construções são elementos importantes do discurso ideológico de progresso juntamente com o controle de propaganda e imprensa durante o regime ditatorial. Além disso, foi através desses edifícios que ocorreu a transição do modo “primitivo” de se construir − com terra e madeira, sobretudo − para as formas “modernas e tecnológicas”, com a introdução da utilização do aço e do concreto nas edificações locais.

Este trabalho está associado ao projeto de pesquisa “Resiliência urbana: estratégias adaptativas na construção tradicional” que versa sobre a produção arquitetônica de meados do século XVIII até a primeira metade do século XX e faz parte do levantamento e documentação de construções tradicionais que possam demonstrar a ocorrência de características de sistemas de ordem emergente no Brasil, a fim de se preencher lacunas e anacronismos em relação a produção arquitetônica desses períodos que se mostraram pouco reconhecidas. Além disso, o projeto também busca evidenciar a capacidade de resiliência e adaptação dessas edificações nas cidades ao longo dos anos e perante as constantes transformações urbanas.

A problemática deste trabalho se dá pelas lacunas identificadas na historiografia e pela falta de sistematização das informações disponíveis a respeito da história e da história da arquitetura de Cuiabá deste período e pela carência de trabalhos específicos que abordem diretamente sobre estes edifícios. Além disso é possível encontrar vários equívocos e ambiguidades, em websites do próprio governo e prefeitura, a respeito do estilo dessas edificações.

Viabilidade, recursos e metodologia

As etapas do desenvolvimento da pesquisa consistem em:

  • Levantamento bibliográfico, hemerográfico, iconográfico e dos projetos arquitetônicos que estejam relacionados aos objetos de estudo, remotamente e presencial, se possível;

  • sistematização das informações relevantes encontradas por meio de catalogações, manipulação de imagens e elaboração de mapas;

  • identificação e catalogação das características neocoloniais presentes nos edifícios e as relações entre o uso/função, o estilo e a ideologia política;

  • avaliação e discussão sobre o estado de conservação dos edifícios atualmente;

  • delineação final das representações gráficas e do material teórico gerado.

A realização deste plano de pesquisa se dará por meio de fontes primárias, como a própria edificação, as plantas originais, artigos e matérias em jornais da época, entre outros documentos que abordem sobre os objetos. Além disso também há fontes secundárias como livros, artigos, teses e dissertações sobre a arquitetura do período. Registros como as plantas das edificações e outros documentos do período podem ser encontrados no Arquivo Público do Estado de Mato Grosso e na Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (SECEL-MT), além de inventários e processos de tombamento. Em relação ao conteúdo hemerográfico do período, este está disponível on-line pelo site da biblioteca nacional e pode ser acessado a qualquer momento.

Os recursos para a elaboração a serem utilizados para a execução do plano, disponíveis até o momento, vão desde a bibliografia apresentada, ao uso do computador com acesso à internet, softwares de arquitetura e projeto, como AutoCAD, Revit e Sketchup, editores de texto e outros como os que compõem o pacote Microsoft Office, até softwares de manipulação e edição de imagens como Photoshop, além de materiais para levantamento, como câmera de celular, trena à laser, caderno para anotações e lapiseira.

Em relação ao desenvolvimento da pesquisa durante a suspensão das atividades presenciais devido à pandemia gerada pela COVID-19, apenas a parte da visita e levantamento de dados presencialmente aos edifícios teria que ser postergada até que retornassem as atividades presenciais, as demais as atividades podem ser facilmente feitas remotamente, inclusive o acesso aos documentos (plantas, decretos e relatórios) pois as instituições como Arquivo Público e Secretaria de Cultura estão fazendo atendimento das solicitações por meios não presenciais através de e-mail e/ou google meets.

Bibliografia

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BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.

BUZATO, G. F. AS TRANSFORMAÇÕES URBANAS EM CUIABÁ-MT NA GESTÃO DE JÚLIO STRÜBING MÜLLER E A FORMAÇÃO DO CIDADÃO CUIABANO PARA A MODERNIDADE (1937-1945). VII Congresso Brasileiro de História da Educação. Cuiabá: 2013.

CASTOR, R. S. Arquitetura Moderna em Mato Grosso: diálogos, contrastes e conflitos. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013.

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NETO, L. Getúlio 1930-1945 - Do governo provisóro à ditadura do Estado Novo. [s.l.] Companhia das Letras, 2013.

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SÁ, Cassio Veiga de. Memórias de um cuiabano honorário: 1939-1945. Cuiabá [s.n.], 1980.

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ZANELATTO, J. H. Estado, Cultura E Identidade Nacional No Tempo De Vargas. Tempos Academicos, Revista do Curso de História, v. 5, p. 9, 2007.

Cronograma

Mês Etapa
Pesquisa bibliográfica: estudo do material bibliográfico encontrado, documentos, artigos, teses, dissertações, livros e etc.
Pesquisa bibliográfica: estudo do material bibliográfico encontrado, documentos, artigos, teses, dissertações, livros e etc.
Pesquisa bibliográfica: estudo do material bibliográfico encontrado, documentos, artigos, teses, dissertações, livros e etc.
Investigação e processamento de materiais cartográfico e hemerográfico obtidos: investigação dos projetos originais e suas características arquitetônicas (plantas, cortes, perspectivas etc.) e dos jornais e publicações encontrados. Visita de campo, se possível.
Investigação e processamento de materiais cartográfico e hemerográfico obtidos: investigação dos projetos originais e suas características arquitetônicas (plantas, cortes, perspectivas etc.) e dos jornais e publicações encontrados. Visita de campo, se possível.
Investigação e processamento de materiais cartográfico e hemerográfico obtidos: investigação dos projetos originais e suas características arquitetônicas (plantas, cortes, perspectivas etc.) e dos jornais e publicações encontrados. Visita de campo, se possível.
Desenvolvimento textual: revisão dos dados encontrados e pontos a serem abordados em relação aos objetivos definidos.
Desenvolvimento textual: elaboração do resumo, introdução, revisão de literatura e esqueleto do trabalho final.
Desenvolvimento textual: escrita da metodologia e discussão.
10º Desenvolvimento textual: apresentação dos resultados e conclusão.
11º Desenvolvimento textual: revisão e correções.
12º Desenvolvimento textual: revisão e formatação final.

Competências da aluna

Visa seguir carreira acadêmica na área de Teoria e História. Neste sentido, tem buscado melhorar e aprofundar seus conhecimentos nesta área sendo monitora de História da arquitetura e da arte 2 e tendo participado de eventos acadêmicos, dentre os quais se destaca o VI ENANPARQ. Outra habilidade relevante é a sua experiência no trabalho com os softwares de arquitetura e projeto, editores de texto e imagem que serão necessários para a execução deste projeto de pesquisa.

Atualmente, desenvolve o projeto “A influência da morfologia urbana na criação de diferentes microclimas em Brasília” com bolsa de iniciação científica do CNPq sob a orientação da professora doutora Marta Romero. Participa da coordenação de roteiro do projeto de extensão Pé na Estrada que visa o estudo do patrimônio histórico brasileiro através da experiência prática em viagens. Participou ainda como monitora de Projeto arquitetônico 1 e Bioclimatismo em 2019.