Representação topológica digital da edilícia de base

Plano de trabalho de Iniciação Científica 2021–2022

Objetivos

Este plano de trabalho explora modos de descrever digitalmente a morfologia espacial em edificações simples. O universo da pesquisa é a edilícia de base urbana brasileira já inventariada na bibliografia especializada e datável, aproximadamente, do período 1760–1860. O objetivo geral consiste em propor uma boa prática de representação digital em massa para a diversidade de disposições de ambientes nas casas tradicionais brasileiras. Para tanto, este plano de trabalho se desdobra nos objetivos específicos seguintes:

  1. Coletar plantas de casas brasileiras do período 1760–1860, publicadas na bibliografia disciplinar ou disponíveis em arquivos online, e representá-las na forma de polígonos georreferenciados (SIG) e de grafos justificados (profundidade topológica);
  2. Representar a profundidade topológica das casas numa base de dados conectada ao SIG, por meio de ontologias compatíveis com o Modelo Conceitual de Referência do Comitê Internacional de Documentação (Cidoc-CRM) do Conselho Internacional de Museus (Icom);
  3. Processar a representação geométrica das casas usando a ferramenta de mapa de visibilidade no programa DepthMapX conectado ao programa de georreferenciamento QGIS;
  4. Sintetizar padrões de relações de adjacência e visibilidade (topologia arquitetônica) do universo de análise em ontologias de ordem maior (tipologia arquitetônica), por meio da avaliação visual de semelhanças entre exemplares.

A história da arquitetura trabalha tanto com estudos de caso de edificações singulares ou conjuntos delimitados, quanto com generalizações interpretativas caracterizando “estilos” arquitetônicos ou “tipos” edilícios. O salto de escala entre esses dois âmbitos, porém, é tradicionalmente realizado por meio de associações mentais intuitivas por parte dos pesquisadores. Esta pesquisa busca, pelo contrário, sistematizar séries tipológicas a partir do processamento de um universo relativamente extenso de edificações. Ela se insere no âmbito das “Humanidades Digitais”, trabalhando com bases de dados extensas e a sua análise no espaço e no tempo.

O trabalho a ser desenvolvido visa, portanto, a tornar séries extensas de casos particulares comparáveis entre si. Neste primeiro momento, a comparação será feita por meio da representação e análise das diversas plantas de casas segundo um mesmo padrão gráfico; isso permitirá uma avaliação visual preliminar de semelhanças e diferenças aparentes, agrupando os estudos de caso em “tipos” de casas topologicamente semelhantes.

Este plano de trabalho faz parte do projeto de pesquisa “Estratégias adaptativas na construção tradicional”. O projeto observa a resiliência nas formas vernáculas de produzir o ambiente construído diante da modernização social e tecnológica desde finais do século XVIII. O plano de iniciação científica contribui com a coleta e interpretação da arquitetura doméstica no contexto da consolidação de uma tradição arquitetônica luso-brasileira ainda pouco afetada por tecnologias como a construção moderna ou a infraestrutura de saneamento.

Os resultados a serem obtidos deste plano de trabalho consistem em modos de classificar, agrupar e estabelecer séries genealógicas a partir de uma amostra com aproximadamente cem casas urbanas construídas em diferentes regiões do Brasil no período 1760–1860. Esses resultados darão respaldo à discussão de problemas interpretativos vigentes no estudo da arquitetura brasileira do final do Antigo Regime e período imperial. Tal respaldo não pretende formular categorias peremptórias nem classificações conclusivas, mas demonstrar a viabilidade de se usar séries extensas de dados como base para interpretações históricas.

Por sua vez, o conhecimento do processo tipológico da arquitetura tradicional brasileira, na sua diversidade regional e transformação diacrônica, é um insumo que contribui para a discussão sobre os valores culturais do acervo arquitetônico remanescente do século XIX. Esse acervo tem sido objeto de estudos de caso arqueológicos e históricos nas últimas décadas, mas esse novo conhecimento tem tido pouco rebatimento na reflexão sobre a coerência e a valoração de centros históricos desse período. A discrepância entre o uso do estilo neoclássico nos principais centros urbanos do litoral e a persistência da tradição vernácula dita “colonial” no interior do continente oculta semelhanças mais profundas na disposição dos ambientes, que esta pesquisa pretende revelar.

O trabalho a ser realizado consiste na coleta de plantas de casas publicadas na bibliografia do campo disciplinar ou disponíveis para consulta online em arquivos digitalizados, na sua representação gráfica e topológica, e na interpretação visual de semelhanças entre objetos. A sua execução requer um conhecimento elementar da bibliografia sobre a história da arquitetura brasileira, domínio básico de ferramentas de desenho técnico por computador (CAD) e georreferenciamento (SIG), e noções de interpretação da composição de espaços arquitetônicos. Essas competências e habilidades são correntes entre alunos de graduação em Arquitetura e Urbanismo.

Viabilidade e metodologia

Este plano de trabalho requer material bibliográfico e de arquivo facilmente consultado pela internet, e recursos de conceituação e processamento com licenças livres. Esses requisitos permitem a execução do plano sob qualquer condição de trabalho presencial ou remoto em vigor ao longo do período. O desenvolvimento desta pesquisa é composto por quatro etapas, em consonância com os objetivos específicos do plano de trabalho:

  1. Consultar os acervos digitais da Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, Arquivo Público Mineiro, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Biblioteca Pública de Nova York, e outros a serem eventualmente identificados, assim como obras elencadas na bibliografia, de modo a compor um inventário de aproximadamente cem plantas de casas para uso nas etapas subsequentes. Desenhar os perímetros exterior e interiores do pavimento térreo de cada casa no programa de geoprocessamento QGIS.

  2. Representar a topologia espacial de cada casa por meio de um grafo justificado, onde cada ambiente é um vértice do grafo e os eixos representam acessos diretos (portas). Descrever os vértices e eixos numa base de dados relacional usando as ontologias do Cidoc-CRM.

  3. Processar a representação geométrica das plantas das casas usando o programa de análise espacial depthmapX mediante o plugin “Space Syntax Toolkit” para o QGIS, de modo a obter gráficos de alcance visual. Realizar o mesmo processamento usando o programa Isovists.org. Comparar os resultados de alcance visual do depthmapX com os do Isovists.org, e ambos com os grafos de profundidade espacial, averiguando a correlação entre os resultados.

  4. Avaliar visualmente as semelhanças entre os exemplares estudados, por meio dos gráficos de alcance visual e dos grafos de profundidade espacial. Agrupar exemplos semelhantes em “tipos” e mapear a sua distribuição geográfica e ocorrência no tempo.

As tarefas de inclusão e processamento de dados podem ser realizadas num computador pessoal simples, com capacidade de processamento condizente com o atual estado do trabalho em desenho assistido por computador (CAD). Um computador que atenda aos requisitos deste trabalho está à disposição da equipe no Laboratório de Estudos da Urbe (LabeUrbe) na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB; no entanto, as atividades também podem ser desenvolvidas no computador pessoal da aluna e do orientador enquanto persistir o regime de trabalho remoto. Todos os programas necessários têm licença livre e gratuita e podem ser instalados sem restrições; os arquivos podem ser compartilhados pela plataforma Sharepoint ou ainda no GitHub.

O universo previsto, compreendendo cerca de uma centena de plantas de casas urbanas, pode ser processado dentro do cronograma previsto sem grandes dificuldades, uma vez que os desenhos a serem realizados têm natureza esquemática. Embora o tempo de processamento das análises seja alto dependendo dos recursos computacionais empenhados, esse processamento pode ser executado de modo não assistido, e eventualmente ser realizado num servidor virtual; há recursos remanescentes do edital DPI/DPG 02/2020 que podem ser alocados nessa tarefa, caso necessário.

Bibliografia

Competências e habilidades

Tendo como base o plano de trabalho de Representação topológica digital da edilícia de base, penso que conseguiria atingir os objetivos apresentados por meio da metodologia escolhida.

Me considero uma pessoa prática, objetiva e organizada, lidando bem com prazos. Já trabalhei com o programa QGIS na matéria de PU1 com as professoras Vânia e Liza, que deram uma aula explicativa de como utilizar a ferramenta. Já fui introduzida ao programa DepthMapx, mas nunca produzi nenhum tipo de trabalho com ele. Não sei utilizar os programas por completo, mas sou uma pessoa que aprende rápido os comandos. Além de possuir domínio básico na ferramenta CAD, penso que adquiri certa habilidade de análise interpretativa da arquitetura durante o curso, já tendo cursado as matérias de História da Arquitetura e da Arte 1 e 2 e Arquitetura e Urbanismo no Brasil Colônia e Império, que julgo como importantes para a pesquisa.

Possuo computador pessoal com a capacidade de processamento necessária para a produção do trabalho. Me interesso pelo tema do projeto de pesquisa e estou disposta a aprender.

Cronograma

Mês Atividade
1 Exploração e levantamento dos arquivos e da bibliografia
2 Levantamento e classificação do material de arquivo e bibliográfico
3 Levantamento e classificação do material de arquivo e bibliográfico
4 Representação geométrica e topológica dos exemplares
5 Representação geométrica e topológica dos exemplares
6 Análises de visibilidade e preenchimento da base de dados
7 Análises de visibilidade e preenchimento da base de dados
8 Análises de visibilidade e preenchimento da base de dados
9 Avaliação visual e classificação dos resultados
10 Redação do relatório final
11 Revisão e formatação do relatório final