O presente artigo investiga o imaginário urbano criado pela escritora Rachel de Queiroz sobre a cidade de Goiás, observado através de algumas de suas crônicas jornalísticas que contemplam essa temática, publicadas entre 1948 e 1988. Propõe-se o estudo de seu familiar e perspicaz olhar sobre a cidade, ainda que externo, originado no fato de essa ser a terra natal de seu segundo marido, Oyama de Macedo. Para isso, utiliza-se a História Cultural como suporte teórico-metodológico, sendo exploradas as complexas relações entre história e ficção e abordando o conceito de imaginário urbano, a partir dos discursos e imagens vinculados a Goiás refletidos pela autora. Nesse contexto, são analisadas as perspectivas de teóricos como Michel de Certeau, Paul Ricœur, Roger Chartier, Sandra Pesavento, etc. Tal embasamento objetiva justificar a utilização da literatura como fonte histórica, também apoiada por uma breve investigação biográfica sobre a autora, de modo a permitir a melhor contextualização de seus escritos. Destaca-se, ainda, que a ausência de pesquisas com esse recorte temático e teórico, articulando a obra de Queiroz e a cidade de Goiás, despertou o interesse por esse campo investigativo, sobretudo, por viabilizar o alcance de abordagens diferenciadas. Por fim, constata-se que o imaginário vilaboense construído pela autora é bastante coerente e complementar ao verificado na bibliografia existente, consolidando-o. Nele são recorrentemente observados os conflitos locais entre passado e presente, a riqueza cultural e natural de seu patrimônio e de seus habitantes, os efeitos do secular isolamento geográfico da região, os traumas deixados pela transferência da capital na década de 1930, o bandeirante Anhanguera como mito originário, entre outros temas.